sábado, 22 de maio de 2010

Um ìndio diplomata nas Aldeias de São Paulo




História da Aldeia

A Estrada da Curucutú se encontra 40 km ao sul da avenida Paulista. E são mesmo quarenta. Talvez até mais. Tomando-se um de nossos "bois metálicos", percorrem-se todos os quilômetros da via Marginal Pinheiros, toma-se, à frente, a avenida Robert Kennedy e, até que ela se acabe, segue-se nela então até outra avenida: avenida senador Teotônio Vilela.


Vencidos os seus mais de 10 km, o bravo e persistente aventureiro chegará finalmente à Estrada da Barragem. Correrá mais 2 km até, finalmente, a Estrada do Curucutú. Daí, então, são mais 5 km até a segunda das aldeias guarani da região, aldeia em que Marcos Tupã come e dorme, geralmente.

Nascido noutra localidade guarani, na Boracéia, em São Paulo, ele foi criado em Ubatuba, com o pai, que não era mas tornou-se um cacique. Um cacique é uma espécie de diplomata, mediando a relação da aldeia com o mundo exterior, defendendo os interesses da comunidade.

Em Ubatuba, Tupã, por pressões de seu pai, começou a preparar-se para a vida política. Estudou com os velhos da aldeia, até onde lhe foi possível. Circulava pelo litoral paulista. Queria aprender a ler e escrever. Alfabetizou-se na aldeia, com professores indígenas, mas "queria mais". Matriculou-se numa escola pública, escola normal, escola "de brancos". E aprendeu. Alfabetizou-se.



"Na época", ele conta, "não tinha escola pública, do Estado, em aldeia. O índio era um analfabeto. Pensava-se, como ainda pensam muitos, que o índio que aprende a ler, e escrever, deixa de ser índio".

Viajando por todo o país, visitando muitas comunidades, Tupã ia e vinha, entre a aldeia Boa Vista de Ubatuda e a aldeia Krukutu de Parelheiros. Krukutu tinha sido fundada por sua família: sua mãe, seu tio Manuel, seu avô.

Estamos em uma das três Terras Indígenas Guarani da cidade de São Paulo. A aldeia Krukutu e Tenondé Porá são as duas comunidades existentes no extremo sul de São Paulo, no bairro de Parelheiros, na região da represa Billings. A terceira T.I. fica no Pico do Jaraguá.



Nossa aldeia tem origem nas famílias que se fixaram na região de Parelheiros na década de 1950. Essa região sempre foi local de passagem para o nosso povo, os Guarani-Mbya que vinha da região das aldeias do Paraná e Rio Grande do Sul para o litoral. Nós nos fixamos nas tekoas, os lugares escolhidos pela facilidade do acesso à yvy marae'i, a Terra Sem Mal, que fica além mar. Nestes lugares é que se pode reproduzir o nhandereko, o modo de ser guarani.

Em 1955, a família do Sr. Nivaldo Martins da Silva Karai Roka Ju, liderados pela sua avó D. Vitalina, que primeiro se fixou na área que é hoje a aldeia vizinha Tenonde Porã ou da Barragem.

Eles vinham de Mangueirinha no Paraná e passaram algum tempo em Itariri, em Santos e Rio Silveira ( São Sebastião) e ainda retornaram por uma ano para o Paraná antes de irem morar na futura aldeia.

Chegaram ali depois do convite feito por um sitiante japonês chamado Kugo Igo. Ele tinha visto a família do seu Nivaldo na Ponte do Socorro, onde tentavam vender seu artesanato. O sitiante perguntou se eles não queriam ir para a terra que tinha. Os Guarani poderiam ficar morando lá e em troca ajudariam Igo na sua plantação de mandioquinha que era vendida no Ceasa. Um tempo depois, o sitiante resolveu ir para o Japão e deixou para o pai de seu Nivaldo, Eduardo Martins da Silva, o documento que passava a terra à eles.


Nessa época a região que é hoje a Aldeia Krukutu, era usada para caça e para extrair material para o artesanato e para nossas casas. Em 1975, Dorinha da Silva e seu filho Manoel Vera se fixaram na área. Manoel, ainda mora na aldeia e conta:

"Quando meu pai morreu, eu tinha 13 anos e tive que fazer uma casa para colocar a minha mãe. Aí que conheci um japonês aqui na Barragem, que era Iakusa Nakamora, a gente chamava ele de Sensei. Ele veio um dia aqui pescar e disse que já que tínhamos um passado aqui, eu podia ficar com o terreno. Aí ele me ofereceu esse pedaço de terra."

A primeira liderança da Aldeia Krukutu foi seu Manoel, quem o substituiu mais tarde foi o Sr. Nivaldo, posteriormente Ventura Papa, Marcos Tupã e agora Manoel Werá novamente.

Na década de 1970, mesmo com a posse da terra dada pelo Sr. Nakamura para a comunidade, nós sofremos uma série de agressões de grileiros. A regularização de nossa tekoa aconteceu em 1987, depois que os caciques Guarani do estado de São Paulo lutaram na justiça para terem suas terras reconhecidas. Quem representava a nossa aldeia, nesta época, era Manoel da Silva Werá.

A luta para oficializar nossas terras começou em 1979 e contou com o apoio do Centro de Trabalho Indigenista (CTI), Conselho Indigenista Missionário (Cimi), Funai e governo do estado de São Paulo, gestão do governador Franco Montoro.

Em 1985, o Sr. Nivaldo, até então chefe da Tenondé Porã, veio morar aqui na Krukutu e com ele chegaram também novas famílias que vinham de Palmeirinha, no Paraná.



Com o crescimento acelerado e desordenado da região e a falta de espaço para manter o modo de vida tradicional guarani nos atuais 25,88ha, entramos no ano de 2001, juntos com as aldeias Tenonde Porã e Jaraguá, com o pedido de redemarcação de nossas áreas. Na atual área não conseguimos que nossas plantações sejam boas e não podemos mais extrair o que precisamos da mata e da terra que é pequena.

Sobre a redemarcação, o ultimo parecer da Funai no ano 2004, foi contrario a ampliação. O estudo pedindo a ampliação, segundo a fundação, estava incompleto. Em 2001 também a nossa Associação Guarani Nhe' ê Porã foi legalizada, também foi o ano que construímos a nossa atual Casa de Reza.



Cultura Guarani

Nós os Guaranis Mbya estamos em várias regiões da América do Sul. Há aldeias na Argentina, Paraguai e Bolívia. Estamos na região do litoral do Brasil, nos estados que vão do Rio Grande do Sul até o Espírito Santo. Há também aldeias no Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Tocantins. Somos no Brasil a maior etnia indígena,somando aproximadamente 35 mil Guaranis.

Acreditamos que o planeta foi feito por Nhanderu, o nosso deus. Ele fez muita coisa bonita; a mata, as aves, os animais, as águas, a terra em que plantamos, tudo o que criou foi para que usufruíssemos. Nhanderu também criou o Sol, e para nós, ele não é só uma simples estrela de luz própria, como é para os juruas. O Sol é um ser muito representativo para nós, porque foi ele quem criou o primeiro Guarani. É ele que ilumina a Terra e fornece a energia para que o planeta tenha essa energia positiva que dá a vida.

Somos um povo bastante religioso. No nosso dia a dia, o guarani está sempre em busca ou ligado a essa força espiritual de Nhanderu, do Sol. Todas as coisas que fazemos - nosso trabalho, as brincadeiras das crianças - são voltadas para essa busca.

Nosso calendário não é como o do jurua, ele é dividido em ara pyau, tempo novo e ara ymã, tempo velho. Essa divisão está ligada à trajetória que o Sol faz. O ara pyau para nós é o período de primavera e verão, quando o dia é mais longo e o sol faz uma caminhada maior, e o ara ymã é no outono e inverno, no período de frio, nesta época em que o dia é mais curto.

Todos os dias nós nos encontramos na Opy, a Casa de Reza, para cantarmos e dançarmos, para rezar a Nhanderu e os mais velhos ensinam as crianças o nosso conhecimento ancestral. Na aldeia nossa principal liderança é o xeramoi, o nome do pajé Guarani. Aprendemos, no nosso cotidiano, a importância de todos os seres e que cada elemento da natureza tem um espírito. O Guarani acredita muito nesses seres porque são eles que dão a vida para nós. Nos manda a chuva, a água e tudo que precisamos para nos manter vivos. Desta forma, estamos muito ligados à natureza. Se este ambiente acabar o Guarani ficará sem estrutura, então lutamos para manter tudo isso que Nhanderu criou.

Hoje, nós Guarani Mbya, buscamos parceiros para defendermos nossos espaços, que mesmo demarcados, sofrem algum tipo de pressão. Parceiros que possam nos ajudar em mantermos tudo que foi nos deixado de bom. O jurua está acabando com o planeta Terra e nós estamos preocupados com isso.




Marcos Tupã da aldeia Krukutu



Fontes
http://www.culturaguarani.org.br/homebr.html
http://br.noticias.yahoo.com/especiais/id_tupa

Um comentário:

  1. Aguyjevete hína ñande ypykuéra, ñande sy, ñande ru.. Hese, ñaime ko'ápe, ha ko'ángaite, upeicharamo, ñande mandu'a va'erã akói hese! Maitei!! Añe'êta che angirû, ha pehengue guarã
    Marcos Tupã e Todos os Parentes.saudades..Ainda lembro aquele dia pela manhã quando aí cheguei com Heitor Kaiowá..edepois recebendo com muita honra a visita de voces aqui em minha casinha no SUL/Porto Alegre/RS.Gratidão ..espero possamos nos ver logo! Parabéns sempre! Aguyjevete!

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