sexta-feira, 24 de julho de 2009

Energias Sustentáveis







Desde que as palestras do eterno "ex-futuro presidente dos Estados Unidos", Al Gore, se popularizaram mundo afora, sobretudo por meio do documentário "Uma Verdade Inconveniente", a percepção sobre a agonia do planeta vem se tornando cada vez mais real. Fenômenos geológicos recentes - furacões, tsunamis, chuvas apocalípticas - são reveladores da ação inconsequente, para não dizer predadora, do homem sobre o meio ambiente.

O desequilíbrio ambiental causado por emissões poluentes, notadamente as de dióxido de carbono - gás causador do efeito estufa na atmosfera - é um dos principais aspectos por trás desse bicho de sete cabeças chamado aquecimento global. É por isso que uma das mais recentes bandeiras que vêm sendo hasteadas por verdes-ativistas que almejam um mundo sustentável diz respeito à diversificação da matriz energética. Em outras palavras: frear os investimentos na geração de energias "sujas", como a termelétrica - que se baseia na queima de carvão ou óleo combustível -, trocando esses aportes financeiros em tecnologias "limpas" como a eólica - tipo de energia gerada pela força dos ventos.



Ventos da contradição
Curioso pensar que essa alternativa, vista como uma das soluções para a minimização da crise ambiental contemporânea, é uma das mais antigas formas de geração de energia conhecidas do homem. Já na Antiguidade, ela produzia a energia mecânica responsável pela movimentação dos barcos e era utilizada, ainda que de forma rústica, na infraestrutura do cotidiano comum das pessoas, como em equipamentos de bombeamento de água e de moagem de grãos. De acordo com a edição 2009 do Atlas de Energia Elétrica do Brasil, publicação elaborada pela Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica), estima-se que o potencial eólico mundial possa chegar a 50 mil TWh (terawatts/hora) por ano, o que corresponde a mais de 250% do total de energia elétrica produzida em 2007 (que fechou em cerca de 20 mil TWh). Mas, na prática, esgotar esse potencial ainda é uma realidade distante.

Dados do Greenpeace dão conta de que 80% do suprimento primário global de energia ainda advêm de combustíveis fósseis (basicamente, petróleo, gás e carvão - recursos esgotáveis).




"Miopia"
Para Sérgio Marques, conselheiro fiscal da Associação Brasileira de Energia Eólica e diretor-presidente da BioEnergy (companhia de desenvolvimento de projetos de energia renovável), a fraca performance brasileira no setor é reflexo daquilo que ele chama de "miopia" do governo sobre o assunto. A começar por uma passividade tecnocrata, de preferir o que já está estabelecido em detrimento ao "novo". "Se você olhar o cenário dos últimos leilões de energia no ano passado, verá que existe a inserção muito grande de térmicas", acrescenta.



Essa situação coloca o governo em contradição, na medida em que este justificava os poucos investimentos em fontes renováveis com o discurso de que 40% da matriz elétrica são de origem hídrica, que, como a eólica, também é "limpa". Para Marques, distorções do tipo também refletem as prioridades (ou não) dos governos no tocante às questões ecológicas. "Qual foi a prioridade do governo Lula? A igualdade social, de trazer as camadas D e E para C. Em nenhum momento teve preocupação com o meio ambiente. Você não vê o Brasil, nos últimos anos, investindo em veículo aeroespacial, em tecnologias de compostos. Não vê incentivo para eólicos", lamenta.

O caso americano também é representativo no que se refere às prioridades estatais. Marques lembra que, enquanto no governo George W. Bush, o secretário de Energia (Samuel Bodman) era envolvido com indústria petroleira (assim como a própria família Bush) - o que possivelmente explique o "boicote" ianque ao Protocolo de Kyoto.



Caso brasileiro
A cruzada por incremento de investimentos na ventania tupiniquim é oportuna pelas excepcionais condições para o seu desenvolvimento existentes por aqui. Segundo Roselice Duarte, diretora do departamento ambiental da BioEnergy, a região sul apresenta potencial eólico semelhante ao da Europa, e o do Nordeste brasileiro chega a ser superior. Não à toa, a companhia toca, atualmente, 14 projetos apenas no Rio Grande do Norte, em vista do leilão específico para energia eólica prevista pelo governo para novembro deste ano. "A eficiência energética é diretamente proporcional à velocidade e à constância dos ventos, explica Roselice. Marques menciona as recentes chuvas que alagaram cidades nordestinas para se entender as possibilidades da otimização eólica na região. "Quando chove, não venta. Quando venta, não chove", sintetiza.



Os impactos ambientais na geração de energia eólica são praticamente inexistentes. Eles estariam atrelados aos efeitos intrínsecos a qualquer obra de construção, como a terraplanagem para instalação das torres, eventuais reformas viárias para melhoria dos acessos aos parques, canteiro de obras e remoção de vegetação, dependendo da topografia. Mas o ganho principal da eólica está mesmo na emissão limpa de resíduos na atmosfera. "O nível médio de emissões pode ser 50 a 100 vezes inferior ao de uma usina térmica a carvão ou a óleo", empolga-se Setas.


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